Como utilizar o conhecimento a seu favor para realizar voos (que a gente achava) impossíveis de serem aprovados no SARPAS

Voo recreativo seguro e legal: Todos nós sabemos que para captar imagens aéreas com drone¹ com peso máximo de decolagem igual ou superior a 250 gramas, são necessários esses quatro requisitos:

• Ser maior de 18 anos;
• O drone e o controle homologados junto à Anatel;
• Tanto o drone quanto o operador possuírem cadastro na ANAC;
• Voo aprovado para utilização do espaço aéreo brasileiro na plataforma SARPAS.

N.A.: Se você considera esse assunto desinteressante ou segue os princípios “meu drone, minhas regras”, infelizmente esse artigo não é para você, mas mesmo assim recomendo essa leitura, afinal, conhecimento nunca é demais. Para aqueles que optam pelo voo consciente, fiz esse tutorial com muito cuidado e critério, tanto da escolha do local como na sua simulação pois vi muita gente frustrada, que foi a locais bacanas para fotografar ou filmar, porém, na sua solicitação recebeu voo negado no SARPAS. Vale lembrar também que solicitar e obter liberação no software de voo do drone não te credencia voar em áreas que foram negadas pelo SARPAS: O regramento do DECEA sempre prevalecerá.

Não é 100% eficaz
Claro que essa forma de utilizar o SARPAS não dará certeza de aprovação: por exemplo, um voo recreativo no Parque Ibirapuera é impossível ter sua liberação, não apenas pelos aeródromos próximos como também (tem até aviso na entrada do parque que) drone é proibido pela própria administração do Parque, veja só como a área é repleta de helipontos:

Esqueça o Ibirapuera, vamos agora a um local interessante para fazer um teste:
Um local que teoricamente poderíamos dizer ser impossível voar com drone legalmente – Eu escolhi o Emissário de Santos, primeiro por ser um belo local e segundo por ter algumas particularidades interessantes:

“-Tem um heliponto bem ali onde vou decolar…”
Como assim, podemos voar num local que tem heliponto?
Precisamos lembrar que quem controla e define as regras de utilização do espaço aéreo é o DECEA² e se na plataforma SARPAS indica que até hoje esse heliponto não aparece como uma restrição, isso se deve porque provavelmente não foi homologado pelos órgãos competentes: na prática significa que você pode decolar sim, obviamente, desde que sejam observados fatores como segurança, condições climáticas, estar ao menos 30m longe de pessoas não anuentes e claro, se surgir alguma aeronave, abaixe e traga o drone de volta, afinal, por ser região de praias, existem helicópteros voando baixo em alguma operação, por exemplo, fiscalizando banhistas.

Lembre-se sempre: não tendo restrição de voo na plataforma do DECEA nem com a segurança e administração do local, trata-se de uma área adequada para voo.

Bom senso é tudo
Locais como o emissário submarino de Santos são bastante frequentados e lá é bem provável a existência de patrulhamento, base fixa da segurança pública ou privada. Como dica, é sempre bom avisar sobre a sua operação recreativa, e sendo legal, até você se sentirá mais seguro e tranquilo.

Simulando o voo na plataforma DASA
Para fazer a simulação e não ficar esperando aquele tempo na plataforma SARPAS, adquira a prática de simular seu voo na plataforma DASA: é o mesmo sistema e o mais legal é que a resposta é instantânea. O link para acessar é esse aqui: https://asa.decea.mil.br

Na imagem acima temos o mapa e no seu centro o emissário de Santos. Normalmente vejo gente doida para querer filmar aquela pequena ilha próxima: trata-se da Ilha de Urubuqueçaba, ela fica a apenas 150m de distância. O grande problema é que ela tem cerca de 250m de ponta a ponta, ou seja, precisaríamos de 400m de raio para fazer uma órbita completa em torno da ilha.

Já que temos um objetivo, vamos ao “passo a passo” da plataforma DASA para simular esse voo com raio de 400m para ver o que acontece:

Foi inserida a altura de 25m, pois acredito não precisar mais do que isso:

… em seguida, optamos pelo voo recreativo:

E logo abaixo, vamos fazer a verificação interseções, que é o final da nossa simulação, já nos dando a ideia se o voo será aprovado ou não no SARPAS.

Clicando em “Análise preliminar” temos esse resultado:

Abaixo, o motivo da interseção:

Ok, como não rolou com 400m, vamos então reduzir o raio da área do voo, que tal 300m? Definindo a nova medida do raio e executando a análise preliminar, teremos esse resultado:

Houston, temos um problema
Lembra lá em cima nosso objetivo era orbitar a ilha? pois então:

E aí que entra algo que pouca gente utiliza no SARPAS e razão desse artigo: a seleção do formato da área de voo como POLÍGONO:

E posso te garantir, é tão fácil criar um polígono que pode ser o formato de voo preferido nas solicitações futuras. Vamos mudar o formato de “Círculo” para “Polígono”:

Como começar a desenhar
Logo que a gente muda para Polígono, surgirão quatro pontos azuis numerados 1,2,3 e 4. O esquema é arrastar os pontos azuis, formando um poligono da área que deseja que o drone voe dentro dela, no nosso exemplo, em volta da ilha:

Caprichando e melhorando a precisão do polígono
Percebeu que entre os dois pontos existe um tipo de “balãozinho”? se você clicar nele e arrastar, irá criar mais um ponto entre esses dois pontos, gerando uma nova sequência, por exemplo, se clicar e arrastar o balãozinho entre os pontos 1 e 2, esse novo ponto será o número 2: a sequencia numérica dessa reta agora terá os números: 1, 2 e 3. Pode-se criar quantos pontos quiser e caso precise apagar algum ponto, também é bem simples:

Definir o ponto de decolagem
Se acharmos que o desenho do polígono ficou Ok, podemos ir até o final e realizar a Análise preliminar, para verificar se existem restrições, porém, ainda falta uma coisa e o sistema irá informar que o ponto de decolagem está fora da área de voo, porque faltou definir o Ponto de decolagem que obrigatoriamente tem de estar dentro do polígono.

Para resolver isso, volte lá em cima e clique no botão de Ponto de decolagem:

… o botão muda de texto, solicitando clicar diretamente no mapa:

Aí é só selecionar um local clicando em qualquer local dentro da área do polígono:

Pronto! Agora é só fazer a Análise preliminar e teremos a satisfação de ver a próxima tela:

Não tendo nenhuma restrição ou interseção, é bem certo que se seguir esse mesmo modelo e parâmetros no SARPAS, o voo será aprovado. Tudo dentro das regras.

“-Meu voo foi APROVADO e posso provar…”
Fiz uma simulação no SARPAS desse voo acima usando um drone fictício, pois o único que eu tinha queimou a placa mãe e precisei me desfazer dele (aceito uma doação) mas serviu bem para exemplificar esse artigo. Caso queira conferir esse voo, basta acessar o protocolo 024DBBEA .

Ah, fique tranquilo, é uma consulta pública que você pode usar quando quiser. Os órgãos de fiscalização usam essa ferramenta…

https://sarpas.decea.mil.br/consulta-protocolo

Encerrando
(Nossa, foi quase um livro! E dava para escrever mais)
Espero que esse artigo lhe ajude a pensar fora da caixa. E conto desde já com criadores de conteúdo, seja visual ou impresso, para que utilizem esse material como base em seus respectivos canais, pois acredito esse assunto pode abrir muitas outras possibilidades. Estão liberados e dispensados de informar a fonte.

Exportando o voo
Estou criando um artigo que ensina a utilizar o arquivo GEOJSON, podendo salvar o voo e utilizar nas plataformas tanto do DASA como no SARPAS. Poderá também enviar por exemplo para amigos, se forem voar juntos no intuito de que eles tenham a mesma localização e geometria do voo, facilitando o trabalho na solicitação de acesso ao espaço aéreo no SARPAS.

Abrss

🙂

Notas
(1) Exceto locais apropriados para aeromodelismo, onde as regras são diferentes.
(2) Sigla de Departamento de Controle do Espaço Aéreo